manifesto das miudezas

fósforo

há demasiado perigo no delírio de grandeza
que despreza a escala animal
que ignora a miudeza
que levanta belos montes sem nada de beleza
que invade mariana
lama
lama
lama
lama
na correnteza

resgatemos os pés como unidade de medida
resgatemos as portas de saída
resgatemos a alma das coisas-aqui
resgatemos yanomami e tupi
resgatemos a miudeza na mira do contato
resgatemos o desconhecido como habitat

porque o pequeno não é banalidade
porque dentro de um palito de fósforo dorme fogo suficiente para incendiar sua casa inteira
porque miudeza é feita da matéria do detalhe
porque o olho se movimenta mais quando encontra um cisco
porque não dá para buscar miudezas, mas apenas ser encontrado por elas
porque miudezas nos desarranjam e, na desorganização, há uma chance de esbarrarmos em nós mesmos
porque miudezas pedem que olhemos seu avesso
porque miudeza é sinônimo de intimidade
porque proximidades somam a gente para mais
porque crianças, barros e formigas são mestres da indisciplina das miudezas
porque o parto em que nasceu a primeira bolinha de gude foi uma festa
porque sem intimidade a aldeia morre
porque agora é hora de desentulhar a estrada da imaginação
porque a palavra miudeza vem do tupi miudezí, que significa encantamento
porque sem encantamento a aldeia morre
porque miudeza é porta de entrar silêncio
porque rastro de flor é pétala
porque em tempestade de ruído, silêncio é ponta de sol
porque sem as formigas o chão respiraria menos
porque o respeito pelas miudezas tornaria o cuidado com as grandezas uma consequência natural
porque sequoias nascem de sementes
porque oceano acontece quando gotas se encontram
porque dá para confundir estrela com vaga-lume
porque a lua cabe dentro do nosso olho
porque considerar que alguém não está à sua altura é perverso
porque não é justo ficar na ponta dos pés para olhar quem é da sua altura
porque quem planta miudeza, colhe inesperado
porque miudeza rima com boniteza, mas também com estranheza
porque miudezas nos ensinam a prestar atenção nos “derrepentes”, naquilo que salta perto
porque não dá para se aproximar das miudezas se quisermos controlá-las
porque miudezas são tão frágeis que, se tentamos controlá-las, elas escapam
porque precisamos aprender a lidar com o que escapa, sendo que tudo escapa

* acompanhe o jornal das miudezas por aqui.

Carta aberta a Sebastião Salgado

Meu querido Tião,

esta é uma mensagem de um amigo que você nunca viu pessoalmente.

Você não me conhece, mas me dou a liberdade de chamá-lo por seu apelido e por “você” em vez de “senhor”, pois ultimamente convivi bastante com suas obras e histórias. Esta semana fui pela terceira vez assistir ao filme sobre sua trajetória. Que fique claro: nunca assisti a um filme três vezes no cinema. Na verdade nunca nem assisti a um mesmo filme duas vezes no cinema. Diante das suas fotos e falas pela terceira vez, chorei novamente, e copiosamente, bem aquele choro de criança que acabou de nascer.

O que você demonstra com sua presença para me provocar tanto? Você entra na ferida do mundo e espreme os olhos para ver os poros do abismo. Sim, amigo Tião, você espreme os olhos para ver os poros do abismo.

Você tateou um caminho que passou pelo movediço fundo do poço para só depois voltar à terra firme e fértil — como dizia o poeta Rumi, para pegar água é preciso ir até o fundo do poço. Você fotografa o massacre em Ruanda com uma coragem sensível. Dá para sentir nas suas falas em entrevistas que sua obra é a expressão de uma trajetória movimentosa como as asas de um beija-flor. Pensando em como sua história me impactou, me lembrei de algumas palavras do educador português Agostinho da Silva sobre o poeta Fernando Pessoa: “Costumo dizer que o Fernando Pessoa ser chamado de grande poeta não é por causa dos poemas que escreveu. Pode-se encontrar muitos poemas tão bons como os dele. A questão foi o Pessoa ter feito da vida dele um poema. Dedicar-se completamente aquilo que queria, sem se importar se comia, se não comia, onde dormia, se não tinha onde dormir, tanto que fazia… Isso é que foi a grande criação poética de Pessoa. E de vez em quando escrevia um poema. Alguns até saíram bastante bons como se sabe”. Bem assim sinto que acontece com você, caro Tião. Me impressiona seu agudo interesse em encontrar-se com o outro, seja um refugiado de guerra, seja uma baleia de 40 toneladas, seja um iceberg. Seu interesse agudo pelo outro é um poema. Seu movimento febril e insistente, de alguém que passa anos e anos observando seres humanos em movimento, e paisagens se desdobrando como origamis feitos e desfeitos pelo vento, é o que me convida a aproximar-me mais do que sou realmente capaz de criar.

No ano passado, um artista que eu admirava muito me frustrou quando o vi numa palestra. Demonstrou uma frieza estranha diante das próprias criações. Algumas pessoas me falaram: “aprenda a separar o artista da obra…”. E aí percebi: o que me interessa de verdade não são artistas friamente profissionais com obras inspiradoras, mas sim pessoas inspiradoras, cujas vidas são calorosos e perplexos poemas, que de vez em quando criam obras tão inspiradoras quanto suas vidas. Não te conheço pessoalmente e quem sabe conhecê-lo frente a frente até poderia me frustrar, nunca se sabe. De qualquer maneira, pelo que vi no filme O Sal da Terra e em outras falas e trabalhos, seu movimento de vida se parece mais com a entrega do Fernando Pessoa do que com o redemoinho de friezas planas e vaidades que outros artistas tanto alimentam.

Sua entrega à fotografia é uma ação de risco… Você diz que muitas vezes deixou a câmera no chão para chorar diante do que via… Quantas histórias hoje te habitam? Quantos perigos moram no caminho daqueles que se entregam por inteiros num movimento ou causa? Ontem mesmo vivi uma situação que me apontou novamente a importância de sustentarmos o risco inerente ato ato de dar largos saltos, sinto que vale compartilhá-la.

Num curso com a Rosane Nóbrega, uma artista que me inspira enormemente também, ela deu bolinhas de plástico para educadores jogarem um ao outro, uma bolinha para cada pequeno grupo. Sim, o exercício era bastante simples, em cada pequena roda de educadores havia uma bolinha para uma pessoa jogar na mão da outra e depois lançar para outro participante e assim por diante. Em seguida ela deu mais uma bolinha para cada grupo. Volta e meia alguma bolinha caía no chão. E aí ela tirou as bolinhas e deu para cada grupo uma bexiga d’água. Quando chegou a bexiga d’água, todo mundo fez uma expressão de espanto. E se a bexiga d’água cair? Bem mais perigosa que a bolinha, a bexiga trazia risco para o simples ato de passar uma bolinha para uma outra pessoa pertinho de você. E aí ela deu mais uma bexiga para cada grupo e o risco aumentou. Friozinho na barriga… Então ela tirou as duas bexigas de cada grupo e veio com um pote delicado e grande, que parecia de vidro e representava um perigo ainda maior em caso de queda.

O receio coletivo se instaurou nos grupos. Como jogar aquele recipiente frágil para alguém sem deixá-lo cair? E se cair? Pedacinhos para todo lado? A Rosane pediu para não jogarmos o recipiente ainda. Pediu para cada membro do grupo sentir o recipiente na mão. E para a pessoa que iria jogá-lo primeiro havia uma tarefa: escolher quem receberia o pote delicado em mãos, para que o apanhador se preparasse também. A Rosane criou uma sólida expectativa para o momento do lançamento do objeto mais frágil que parou nas nossas mãos até então. Quando estávamos a alguns segundos dos lançamentos, ela pediu que devolvêssemos os potes a ela, para conversarmos um pouco — ou seja, não jogamos os recipientes mais frágeis. Daí falamos sobre o teor de risco em jogar cada um dos objetos. Sobre a demanda de presença que a bexiga d’água solicitou da gente. E sobre a exigência aguda que o pote frágil mobilizou apenas por imaginarmos que o jogaríamos.

A bolinha de plástico é o estado da acomodação em potencial: fácil de jogar, risco zero de cair e quebrar… Quem fica com a bolinha d’água na mão está num estado mais acordado, mais presente, mais riscoso. E quem segura o gordo recipiente quebradiço está num estágio em que o risco se revela em cada migalha de segundo. O virtuose, aquele que se torna mestre na sua arte, é este que faz malabares com montanhas de vidro, assumindo toda a enxurrada de risco que essa ação concentra. Com tantas viagens dentro de si mesmo, e tantos riscos assumidos, sua história me parece a narrativa de quem lida com vidro boa parte do tempo.

O segundo ponto que me atraiu a atenção — e a emoção — foi seu olhar que percebe em cada encontro a narrativa inteira da civilização. Como quando você está diante das fotos dos mineiros na Serra Pelada, no Pará, e conta que essa cena evoca um desfile da história: “Quando cheguei à beira desse buraco imenso, vi passar diante de mim, numa fração de segundo, a história da humanidade. A história da construção das pirâmides, a torre de Babel, as minas do rei Salomão…”. Como quando você olha para uma cena de fome e esfarelamento da vida nas areias do Sahel e capta exatamente um olhar de brutal beleza e intimidade entre uma mãe e uma criança — ao prestar atenção nesta cena, você está olhando ao mesmo tempo para todas as mães e filhos que um dia trocaram um olhar denso de amor e visceral conexão. Como quando você olha para a pata de uma iguana nas ilhas Galápagos e com essa pata sugere que olhemos também a mão humana, propõe que recordemos as mãos de cavaleiros ancestrais que saíam para suas batalhas com escudos por todo o corpo, espalhados metalicamente pela pele como escamas. Você nos convida a olhar para o mundo inteiro contido numa mão, num encontro entre mãe e filha, num dia de trabalho em busca de ouro. Nos convida a fitar o caráter universal do momento presente. Nos convoca a tocar o mundo inteiro que gira veloz e poeticamente dentro de cada miúdo segundinho. Nos chama a sentir de verdade as frases do poeta William Blake:

Ver um mundo num grão de areia e um céu numa flor silvestre,
ter o infinito na palma da sua mão e a eternidade numa hora.

(To see a world in a grain of sand, and heaven in a wild flower,
Hold infinity in the palm of your hand and eternity in an hour.)

Como negar um convite para ver o mundo num grão de areia do deserto de Sahel, do deserto do sertão, do imprevisível deserto que vive dentro do coração humano? É um convite para olhar com lupa e encontrar na imagem vista um fio sem fim.

Há uns dias notei e fotografei formiguinhas carregando folhas… E escrevi:

manchete do jornal das miudezas: formigas são flagradas carregando pedaços de árvores

E o que estava na minha mente? Que as formigas carregando folhas me convidavam a ver o trabalho de todos os trabalhadores na Terra hoje, e ontem, e amanhã. Esta mínima cena é uma conjunção, um nó entre mil linhas estendidas na esteira do tempo.

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Esta carta, aliás, é um convite para vermos nela outras cartas já escritas para amigos distantes. É uma carta apenas, mas não deixa de evocar o ato universal de compartilhar o que sentimos com alguém em quem, seja lá por quais motivos, admiramos e confiamos. E esta é uma carta de agradecimento, Tião. Obrigado por me apontar a brutalidade e a beleza na sua frágil dança.

Que um dia nos encontremos para trocar fotografias das nossas escamas, dos grãos de areia escancarados nos desertos e das gotas de mistérios que caem sobre nós todos os dias.

André Gravatá

Um desejo diferente para 2015

O ano está chegando ao fim, dizem que hoje é o último dia. Uma frase que escutei recentemente não sai da memória da pele nem se findarem dois anos de uma só vez, de súbito. Nem se me lavarem com tira-manchas. Nem se esfregarem meu corpo inteiro com palha de aço.

O Talibã atacou uma escola militar no Paquistão, deixando mais de 140 mortos (em sua maioria, crianças) e, por meio do seu porta-voz, declarou que as mortes aconteceram para que os militares sentissem a dor que os membros do Talibã sentem quando seus familiares são assassinados pelo exército. “Queremos que sintam nossa dor”, foi a frase que disseram, é a frase que veio morar na minha memória.

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Por vivermos num mundo em que somos incapazes de sentir a profundidade da nossa dor — e, menos ainda, da dor dos outros –, a pior face da loucura nos espreita. Na mesma semana do ataque no Paquistão, uma amiga compartilhou uma frase absurda que leu num anúncio de analgésicos: “Não temos tempo pra sentir dor”. Por não termos mais tempo para sentir dor, a dor aumenta de tamanho, contrai gigantismo. Por não termos tempo para o sentimento do mundo, entramos em espirais que nos deixam mais doentes. O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade dizia: “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”. Nós, o que temos? Temos apenas duas mãos e nada mais? Ignoramos a segunda parte do verso? Nossa poesia é partida.

A maior doença do homem é a ignorância? Ignorar a si mesmo e ignorar o outro são faces de uma mesma moeda? São tantos tipos de dores no mundo quanto tons de cores e timbres de voz. Em tempos em que a dor está anestesiada por tantos remédios e ilusões, senti-la é um ato político, estético, vivo. Como disse a jornalista Eliane Brum, “é o mal-estar que acusa o que resta de humano em nossos corpos (…) É preciso sentir o mal-estar. Sentir mesmo – e não silenciá-lo das mais variadas maneiras, inclusive com medicação. Ou, como diz a pensadora americana Donna Haraway: ‘É preciso viver com terror e alegria'”. Um desejo diferente para 2015: viver com terror e alegria. Viver com terror e alegria.

Consta nos diários do escritor tcheco Franz Kafka: “O ano que passou não estive desperto mais do que cinco minutos”. E me pergunto: quantos minutos eu estive desperto este ano? Menos que Kafka? Sejamos sinceros, quanto tempo passamos despertos para o terror e a alegria que se despem na realidade crua? Estamos despertos para as cicatrizes no solo? “Só quando descubro a gravidade, o chão, abre-se espaço para que o movimento crie raízes, seja mais profundo, como uma planta que só cresce a partir do contato íntimo com o solo”, disse o bailarino e coreógrafo brasileiro Klauss Vianna no livro “A Dança”. E a provocação de Klauss nos lança em outros movimentos: quantos minutos estivemos dispostos a entrar em contato íntimo com o chão? Quantos minutos estivemos despertos em 2014 para a gravidade dos corpos?

Assim como os animais aprenderam os padrões de coloração e texturas das florestas e nelas se camuflam, nós aprendemos os padrões de coloração e texturas das cidades áridas e nelas nos camuflamos, mais parecidos com asfaltos do que com gentes? Por quantos minutos somos capazes de olhar para o lado? Por quantos minutos somos capazes de olhar para uma dor? Vale vestir a dor antes de olhá-la, para que ela fique apresentável aos nossos olhos? O corpo da dor é sujo? Qual a relação entre reconhecer a dor do outro e exercitar empatia e compaixão? Não hesitemos em nos embriagar com copos e mais copos de interrogações.

No dia 24 de dezembro, visitei um cortiço no centro de SP onde mora uma mulher que se enclausurou na própria dor. Joga suas fezes pela janela da sua casinha sem banheiro, comunica-se por frestas e bilhetes. Mora na quase incomunicabilidade. De tão dolorosa, soa como ficção a história da senhora. No mesmo dia 24, enquanto estava numa lojinha com uma amiga, um morador de rua nos abordou:

“Vocês têm um real para me dar? É para a cachaça.”

A dose de cachaça serviria para dormir um pouco até a noite. Daí o homem contou para a gente que passaria uma noite de Natal elegante, exibia um sorriso bonito por entre a voz rouca e torta que denotava o uso de crack. Disse que antes de morar na rua se dedicava à arte de estampar camisetas. Perguntamos o porquê dele não mais exercer seu ofício. O homem mostrou seu braço machucado, mãos e dedos tortos. Falou que sofreu uma queda numa ponte. Amigavelmente, perguntamos se ele estava bêbado e então caiu da ponte, se foi empurrado pelo álcool. Ele olhou para a gente com uma expressão sutil e aguda, como quando se passa linha por uma agulha bem fininha. Não era uma queda por acidente, com seu olhar deu para entender que ele tentou suicídio.

O que passa pelas entranhas do homem que encontrei na rua para que ele tenha pulado de uma ponte, sonhando em pôr ponto final na própria vida? Que dores tão fortes são essas? Ele tem alguém com quem partilhá-las? Quer partilhá-las? Nós queremos partilhar as dores que guardamos nos nossos caroços? Há quanto tempo deixamos de nos comunicar com os outros e nos trancamos em uma casinha diminuta, em que só sabemos abrir a janela para jogar nossos restos para fora? Numa palestra em que estive há uns meses, o provocador de ventanias e sociólogo Edgar Morin ressaltou bastante o fato de que as pessoas não sabem mais lidar com a dor. Disse que deveriam existir casas de solidariedade em cada esquina, onde fosse possível aprender a lidar com sofrimentos.

Se enfaticamente abrirmos as comportas da nossa dor e das dores dos outros, talvez nos afogaremos — alguns podem pensar assim. Pessoalmente, sinto que é melhor morrer afogado naquilo que há de profundo do que definhar apenas por tocar a superfície das coisas. E dentro da dor não há só feiura e breu, que fique claro. Aproximar-se da dor não é mudar-se para uma sala escura. Há beleza e mistério na dor. Muito do que há de bonito e abundante no mundo surge da dor — leram O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa? Dá para esquecer o quadro Guernica, de Picasso?

Entrar em contato com a dor não quer dizer andar cabisbaixo e desalegre por entre os dias. Entrar em contato com a dor, com o chão e com a gravidade quer dizer andar desperto pelo menos mais de cinco minutos por ano.

*

Uma das intervenções poéticas que fiz nas ruas em 2014 se chama “Faço seu retrato em forma de poesia”. A ação aconteceu na Praça da Luz, em São Paulo. Uma garota de programa com quem falei nessa intervenção me trouxe um olhar que se entrelaça profundamente com as dores que sentimos ou negamos hoje. Perguntei o que ela mais gostava de fazer, ressaltei que suas paixões seriam o tema do poema. Ela me disse que gostava muito do namorado, de dançar forró com seu amor. Daí perguntei: O que é amar? A resposta veio direta como um dardo: “Amar é lembrar. Amar é lembrar de amar sem que isso seja um esforço. Amar é lembrar do nosso amor.”

Se entendermos que amar tem a ver com lembrar, o ato de lembrar a dor (dos outros e a nossa) é expressão de cuidado. Enquanto eu lia a frase do Talibã sobre o atentado que matou uma multidão de crianças (“queremos que eles sintam a nossa dor”), refletia sobre como devo seguir depois de entrar em contato com tais palavras. Devo andar com essa dor a tiracolo? Por quanto tempo devo me lembrar dela? Devo colocá-la no vaso onde guardo meus olhos à noite, para que eles absorvam a substância da qual essas palavras se compõem?

Quando a gente anda com a dor descoberta, do nosso lado, muitas vezes ela nos leva para lugares que não visitaríamos sem sua companhia. Não deixemos que certas dores saiam da pele nem se nos lavarem com tira-manchas. Nem se findarem dois anos de uma só vez, de súbito. Nem se esfregarem nosso corpo com palha de aço.

Lembrar a dor é um ato amoroso, político, estético, vivo.

* um agradecimenso especial à Serena Labate, que este ano me ajudou a sentir mais intimidade com o chão.

Carta aberta ao mestre Manoel de Barros

Querido Manoel, não sei como começar esta carta… ela é uma tentativa de amarrar o tempo no poste. Como a gente amarra o tempo no poste, mestre Manoel? Esta carta é um vareio da imaginação, bem como o vareio que o senhor teve aos sete anos, quando tentou pegar na bunda do vento. Amarrar o tempo no poste é como pegar na bunda do vento?

12e Soube que o senhor está internado, temporariamente impossibilitado de pendurar bentevis no sol. O que o senhor tem que barra os bentevis? Há uma pergunta que dança em mim: os anos pesam o peso da pedra ou do algodão ou da pedra e do algodão ao mesmo tempo?

Escrevo-lhe esta carta para agradecê-lo pelo que fez por mim sem nem saber que fez. Pois foi com o senhor que se quintuplicou em meus voos a importância de apalpar as intimidades do mundo.

Foi com o senhor que descobri a esticadeza de horizontes e o carregamento de água na peneira. {Minha mãe até hoje reclama por eu passar todos os dias carregando água na peneira. Abaixo há uma foto minha com a peneira em que peneireio nascentes desde menininho.}

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Foi com o senhor que aprendi a sapiência do bocó. Que aprendi a ser endivinado pelo orvalho e desaprendido pelas horas do dia. Que aprendi que dá para pegar na voz de um peixe. {Estava numa loja de papéis, e a pessoa que me atendeu disse que o filho dela, de uns 6 anos, gosta de poesia. Daí peguei uma caneta na hora e lancei sobre o papel um presente ao rapaz, uma peraltagem manoeleira: “As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis. Elas desejam ser olhadas de azul”.}

Foi com o senhor que vi cenas nunca antes imaginadas nem no império brinquedeiro da minha infanciência. Com o senhor andei por um rio que cortava a tarde pelo meio. De azul, o senhor me mostrou outonos mantidos por cigarras e lamas fascinando as borboletas. Me mostrou um homem quase-árvore, que guardava um encolhedor de rios e um abridor de amanhecer {jamais vou me esquecer de como o abridor de amanhecer auroreia a terra}. O senhor me ensinou a apalpar os perfumes do sol. Me disse que as coisas que não existem são mais bonitas. E não entendi. E o senhor me deu um desafio: “ao voltar para a casa, fotografe o silêncio”. E tentei, tentei, mas não consegui sacar nenhuma imagenzinha do silêncio. E voltei para uma outra conversa. E perguntei como fotografar o que eu não via. E o senhor não me explicou, só me levou para perto de uma árvore em que pássaros gorjeavam. Que cena fecundante, que bonitezaria! E o senhor me perguntou: “por que o gorjeio é mais bonito do que o canto?”. Não soube responder, estava eu em estado de voz perdida, penetrado pelos gorjeios. Passou um tempo e o senhor continuou: “gorjeio é mais bonito do que canto porque nele se inclui a sedução. É quando a pássara está enamorada que ela gorjeia”. E o senhor pediu para eu olhar a árvore com atenção. “As árvores ficam loucas se estão gorjeadas”, disse. Sim, foi a primeira vez que vi o delírio de uma árvore. E foi como um balde de água cheio de fogos de artifício cremosos se derramando sobre meu olhar… Aí fotografei o silêncio do delírio da árvore gorjeada.

O senhor já me convidou para tantos festejos linguajeiros que nem há como agradecimensar tantas entradas no reino da poesia. O senhor é sábio em celebrar vazios – e sabe bem como chamar outros para partilhar sua fervura. O senhor convida homens sozinhos como pentes, que têm vozes em que nascem árvores. O senhor convida aves que sonham pelo pescoço, macacos que gorjeiam, lagartixas com odor verde, caramujos-flores, corós transparentes, ciscos feitos de gravetos, areia, grampos e cuspes de aves, mulheres de 7 peitos, moscas que se dependuram na beira de ralos, córregos, formigas ajoelhadas em pedras, baratas que passeiam nas formas de bolo, chuvas vestidas de sóis, meninos que veem a cor das vogais, sapos que sabem divinamentos, caracóis que não gosmam em latas, latas nuas e todos os tipos de pessoas com cabeças apinhadas de parafusos que farfalham.

Mestre Manoel, vidente das coisas trocadas, ousadioso dos instintos primevos, o senhor é mesmo o apogeu do chão. É quem monumentou as miudezas e também as formigas espremidas pela neblina. E o tibun das crianças. E a cobra de vidro que dá a volta por trás da sua casa.

O escrevimento dessa carta me deu vontade de rasgar inteirinhinha a fantasia da razão, está na cara que todos os caminhos levam à ignorância. Tenho gostos pela vadiagem com letras… Tenho que reaprender a errar a língua… E compartilho uma novidade: vou criar peixes no bolso, está decidido. Depois o senhor me manda algumas sugestões sobre cuidadoria de cardumes bolsais? Quem sabe dá para criar um Tratado Geral das Criações no Bolso.

Me despeço… Enquanto me despeço, remexo, com um pedacinho de arame, o poço das lembranças manoeleiras que guardo em mim. Os ventos levam-me para longe, os ventos lhe levam para longe… Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel, Manoel… repetir, repetir, repetir… até ficar diferente, até contrair visão fontana.

Que uma chuva de pingos de sol leves caiam feito mel sobre o senhor. Já é hora de eu tomar meu banho no orvalho da manhã.

Tibun.

André Gravatá

 

Obs.: Mestre Manoel, não foi possível amarrar o tempo no poste… Minutos antes de eu partilhar a carta que escrevi para o senhor, escrita com a água da fonte que sai dos olhos, o senhor voou fora da asa. Agradecimenso por pintar tantos azuis no mundo. Que o fim lhe olhe de azul também. Que o fim lhe olhe de azul. Manoel, Manoel, Manoel…

Morin e o mar

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Hoje me senti como o mar. Em ondas. Ouvir o francês Edgar Morin me gerou um entusiasmo agudo, como se bexigas de água estourassem no meu peito. Depois de ouvi-lo, suas palavras voltaram à cabeça durante o dia inteiro, em ondas ruidosas e encorpadas.

A palestra de Morin aconteceu no Rio de Janeiro, num evento chamado Educação 360. O oceano Morin, do alto dos seus 93 anos, exala vigor pelos poros e palavras. Suas frases são ondas de vitalidade. Na primeira onda, ele falou que Rousseau definiu há um bom tempo o papel da educação, que é o de ensinar a viver — a viver bem, que fique claro. Numa outra onda, falou que o imperativo atual é conectar as pessoas e espaços. Que se não desenvolvermos o “nós”, o “eu” vai ficar ressecado. Que não só o indivíduo está na sociedade, mas a sociedade está também no indivíduo. Que não há paixão sem razão, nem razão sem emoção. Que todo conhecimento é uma tradução que se segue a uma construção. Que as palavras são traduções e reconstruções. Que é fantástica a capacidade do homem na criação de ideologias. Que devemos cultivar um conhecimento que seja capaz de ver múltiplos aspectos da realidade. Que as realidades são ambíguas. Que o conhecimento é multidimensional. Que enganar-se pode levar a desastres. Que é urgente desenvolvermos uma vigilância cuidadosa que diminua os nossos enganamentos constantes. Que entre um emissor e um receptor é preciso que haja um código em comum. Que as pessoas têm uma incompreensão profunda sobre quem é o outro. Que nós não ensinamos a autocompreensão e temos a tendência de jogar a culpa no outro. Que compreender nossas fraquezas e defeitos nos ajuda a compreender o outro também. Que há um ponto fundamental: o outro é ao mesmo tempo semelhante e diferente de nós. Que há uma identidade humana comum profunda e ao mesmo tempo a singularidade de cada homem e mulher. Que precisamos reconhecer a diversidade como o tesouro da humanidade. Que sempre houve incertezas na vida. Que não sabemos quando vamos morrer. Que hoje vivemos numa época com incertezas mais acentuadas. Que a certeza de um futuro melhor não é garantida. Que a escola não nos ensina a enfrentar as incertezas. Que o improvável é mais provável do que o provável. Que toda decisão é uma aposta. Que navegamos num oceano de incertezas com arquipélagos de certezas. Que devemos ensinar como abraçar a vida pelo amor. Que vivemos a crise da humanidade que não consegue ser humanidade. Que antes criavam produtos para consumidores e hoje criam consumidores para produtos. Que é urgente educar de um jeito que as pessoas percebam sua capacidade de escolher. Que há uma intoxicação consumista. Que é preciso nos educarmos para aprender a lidar com a internet. Que a educação deveria se ligar ao pensamento complexo. Que vivemos numa comunidade de destino planetário. Que os seres humanos têm algo em comum. Que devemos sentir que cada um de nós faz parte de uma aventura incrível, que é a aventura humana — e que começou há milhões de anos quando um primata se tornou bípede e desenvolveu o uso das mãos. Que depois depois de nos tornarmos bípedes, houve o aparecimento da linguagem. Que as pequenas sociedades antigas levantaram vários impérios — astecas, incas, impérios no Oriente Médio, China, Índia. Que apareceram artes, filosofia, monumentos, escravidão, hierarquia, guerras, globalização. Que a história humana é extraordinária. Que a história humana nos conduz a um destino que desconhecemos. Que não queremos um paraíso, mas uma realidade melhor para superar as principais carências. Que há células no nosso corpo que nasceram há quatro bilhões de anos. Que continuamos a história do universo, já que somos feitos de moléculas, que são feitas de átomos, que são feitas de partículas que começaram há quinze bilhões de anos. Que a aventura do universo, da vida e da humanidade é desconhecida. Que há prosa e poesia na vida. Que a prosa é o que fazemos por obrigação. Que a poesia é aquilo que nos exalta, é a comunhão recusada a tantos milhões de pessoas. Que precisamos ter consciência da reforma indispensável que deve ser feita por nós. Que professores não conhecem o mundo adolescente. Que para ensinar é preciso ter amor e comunicá-lo entusiasmadamente. Que os professores estão fechados nas suas disciplinas. Que é preciso uma nova formação de educadores. Que estamos na pré-história da reforma dos nossos tempos, à procura de um novo caminho. Que a avaliação é uma prática arbitrária. Que há a necessidade de uma reforma global em todos os aspectos. Que não existe mais sentido nas hierarquias que permanecem até agora. Que Montaigne dizia, no século XVI: todo homem é meu compatriota. Que deveriam existir casas de solidariedade em cada esquina, para as pessoas se encontrarem e lidar com seus sofrimentos. Que a juventude pode dedicar mais tempo para serviços cívicos. Que não podemos achar que existe uma única solução. Que podemos avançar com múltiplas reformas para abrir uma nova via para a civilização.

Tantas ondas. Tantas vias para ondear.

Hoje me senti como o mar. Em ondas. Ouvir o francês Edgar Morin me gerou um entusiasmo agudo, como se bexigas de água estourassem no meu peito. Depois de ouvi-lo, suas palavras voltaram à cabeça durante o dia inteiro, em ondas ruidosas e encorpadas.

Você precisa aprender a viver com menos recursos

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Em tempos de pouca água nas represas e crises ambientais fazendo fila na nossa porta, precisamos aprender a viver com menos recursos. Mas o que é viver com menos recursos?

Resolvi compartilhar uma história que vivi no ano passado, que ainda ecoa na minha mente uma infinidade de vezes, exatamente sobre nossa relação com os recursos disponíveis ao redor. Sempre que me pego numa situação de desperdício, sou chamado ao chão da consciência por essa história.

Vou narrá-la como se quem estivesse vivendo esse momento fosse você.

Imagine que você está na Índia, lavando os pratos do seu jantar, à noite. É escuro. Há lua no céu, mas poucos raios de luz se esticam sobre a pia.

Você está lavando a louça com terra. Esfrega um pouquinho de terra na superfície do prato, depois enxágua e está limpo. Simples, rápido, sem detergente nem esponja.

Há mais duas pessoas lavando louças ao seu lado.

Tateando no escuro, você decide ligar uma lanterna para jogar luz sobre a pia.

Com a lanterna acesa, você sente que consegue se assegurar que não está sobrando nenhum torrão de terra nos pratos.

Vem um homem lá de longe. Chega perto. Olha nos seus olhos com firmeza, como se fossem jabuticabas prestes a serem colhidas. Rapidamente, ele lhe diz:

– Você precisa aprender a viver com menos recursos. Não precisa ligar a lanterna, há a luz da lua. À noite, a luz da lua não é suficiente para você? Você precisa aprender a viver com menos recursos. Ah, você precisa aprender a viver com menos recursos…

Você desliga a lanterna, pensando no quanto ainda precisa aprender. Pois dá para viver com bem menos, bem menos…

Os buracos na sala

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créditos: Mohammed Abed / AFP

A sala está em buracos.

Qual é o buraco maior, o que está na parede ou o que está dentro das pessoas que abriram esses buracos?

O buraco nas pessoas é muito maior.

A foto acima é recente, mostra um garoto palestino em Gaza. Mostra uma escola perfurada pela dificuldade humana de viver em paz. Mostra uma escola que mais parece uma peneira, com fendas e cavernas em que o mal escorre sob os olhos de um garotinho que certamente não consegue entender o que está se passando — alguém consegue?

Me senti muito mal ao olhar essa foto. Não que eu não tenha visto imagens piores da situação no Oriente Médio, vi sim, e há fotos que expressam o concreto horror, que têm cheiro de queimadura, que ricocheteiam no olhar e batem no estômago como balas de revólver. Essa imagem saltou dentro de mim e me incomodou mais do que as outras porque dediquei mais tempo para olhá-la, para tocá-la com os dedos do meus olhos. Parei muitos minutos diante dela, fazendo uma radiografia de cada um dos buracos na parede, e comecei a contá-los, tentando sentir a fundura dos poços de escuro, imaginando o sons do ambiente, sentindo o chão de pedras no caminho. Então pisei firme nesse chão, inalando a poeira que se acumulava sobre as mesas no canto do esquecimento. Me perguntei: que tipo de sensação da vida tem uma criança que nasce na esburacação?

Olhe a foto por mais tempo, ande pela sala na companhia do garoto.

Coloque a mão nos buracos na lousa, o que você sente?

Assim como o garoto, use seu dedo indicador para escrever algo na lousa. O que quer escrever?

Passe as palmas das suas mãos sobre a lousa, prove o sabor do pó que se acumula em cada centímetro de superfície. Só quando dedicamos mais tempo para sentir o que está ao nosso redor é que nos aproximamos do que realmente está pulsando sob os panos das cenas. Se entramos numa sala escura, só alguns minutos de observação permitem que nossos olhos se acostumem com o breu e passem a vislumbrar linhas e vultos.

Agora que você olhou a foto com mais tempo, me diga: o que você sente?

Não sei sobre você, mas eu sinto minhas entranhas tão ou mais perfuradas do que a lousa. Se meu corpo fosse uma casa e as pessoas pudessem entrar nele, encontrariam peneiras em forma de paredes. Pois ao abrir os olhos para a realidade que o homem está construindo — ou desconstruindo –, ainda que eu veja muitos pontos potentes, belos e promissores, sou também metralhado bruscamente por cacos de catástrofes que se espalham e se reproduzem como vermes.

E não vim para esmiuçar a discussão sobre o conflito entre palestinos e israelenses, desconheço as miudezas dessa narrativa. Minhas palavras apontam outra questão: a insensibilidade que gera mais e mais buracos, seja no Oriente Médio, seja aqui no Brasil.

Toda vez que me entrego a passeios pelos porões do nosso tempo, sinto a necessidade de caminhar para ver a realidade em movimento. Numa das minhas caminhadas silenciosas mais recentes, cheguei até o Parque da Água Branca, em Perdizes, e andei à noite entre as árvores. Perambulavam pela mente os poços de horror em Gaza e os porões selvagens que encontro por perto, em SP, pelo Brasil. Cheguei até uma parte do parque onde havia um bambuzal. Estava escuro, então entrei no meio do bambuzal e, olhando para cima, via apenas o pano preto da noite se estendendo na folhas que alcançavam as alturas. O vento movia as folhas com uma delicadeza bonita de se ver e ouvir, como se a multidão de folhinhas fosse um cardume na água, ora numa direção, ora em outra. Decidi me deitar no chão, para olhar o ambiente com o corpo inteiro. Os pernilongos me mordiam, deixavam coceiras em mim.

Corpo estendido sobre o chão, olhar estendido sobre o céu. Me senti em pedaços. Como se cada parte de mim fosse uma pedra jogada numa parte do parque. Nossos tempos nos transformam em pedras para que então sejamos atirados uns nos outros?

Observando as altas cabeças dos bambus em contato, em movimento numa dança com o vento… Olhando as árvores ao redor… Me dei conta do quanto a paciência da natureza tem a nos ensinar. Aquelas árvores levaram anos para crescer… Silenciosamente… Suas folhas, tão precisamente esculpidas pelo tempo… Tão cuidadosamente esculpidas pelo tempo… De novo, o tempo. Tudo mudará se dedicarmos mais tempo para aprender com o ambiente ao nosso redor, para escutar as fotos que gritam com a garganta em estado de convulsão, para perambular pelos vales e cavernas das pessoas… Num mundo em que tão poucos se leem para além das primeiras páginas, ver e ouvir sem se inebriar com a neblina instalada no ar se torna um ato político, uma campanha silenciosa pela erradicação do analfabetismo relacional.

Deixemos o Parque da Água Branca e suas árvores em paz. Voltemos a Gaza, diante do menino na sala. O que fazer depois de meditar sobre essa cena? O quê? Repito: a foto é forte não por causa do que dá para olhar, mas pelo que não se vê na sala. Afinal, o pior não são os buracos na parede, mas o que tais buracos evocam e apontam: os buracos nas pessoas, os buracos em mim.

[AVISO: Se aceitar prosseguir a leitura do post, por favor, não deixe de seguir a proposta que vou compartilhar. Se não quiser levar à frente nenhum combinado para esculpir sua sensibilidade, por favor, largue esse texto de lado, sente-se no sofá da sua sala com paredes perfuradas por buracos, finja que nada aconteceu… Se continuar a leitura, atenda à proposta sem pestanejar, por favor, por favor, por favor]

O que são buracos? Lugares onde mora o escuro, a fraqueza. Onde mora o horror. Mas também pelos buracos pode entrar a luz. Pelas frestas pode escorrer a água que mata a sede. Então percebamos cada buraco nas paredes como gritos que suplicam por relações genuínas que os preencham.

Para cultivar relações, entrando nas entrelinhas do outro, precisamos criar mais e mais momentos em que lemos as pessoas com tempo e atenção. Pois então, proponho que você se comprometa a organizar uma Roda de Leitura de Pessoas.

E o que é uma Roda de Leitura de Pessoas?

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Se quiser, use esse cartaz para divulgar sua Roda de Leitura de Pessoas.

Trata-se de um encontro de pelo menos duas horas em que duas pessoas são convidadas a contar sua história de vida em detalhes.

Primeiro, junte um grupo de pessoas. (I)

Elejam juntos quem serão os dois participantes da roda que vão compartilhar suas histórias de vida. (II)

Proponha que comecem contando um momento que os marcaram muito e escute, escute, escute, escute, escute, escute, escute, escute, escute, escute, escute, escute, escute, escute, escute. No decorrer da conversa, convide os participantes a fazerem perguntas que levem os olhares para outras camadas das narrativas. (III)

Inicialmente, não se esqueça de provocar as pessoas presentes a escutarem com atenção não apenas palavras, mas também os silêncios.

Roda de Leitura de Pessoas é uma simples provocação de encontro com páginas alheias que a pressa e a miopia não nos deixa ler — há infinitos volumes na epopeia de cada um. Faça essa roda na sua casa, escola, empresa, seja onde for. É uma forma de você entrar nas suas salas. Nas salas dos outros. Para observar buracos e frestas. Para olhar as lousas. As mesas. A poeira impregnada nas superfícies e nas peles. As bonitezas e fios d’água que escorrem pelos cantos.

A sala está em buracos.

Ler o que se passa lá dentro não é pouco. Ler o que se passa lá dentro exige coragem. Coragem de encontrar o mau de frente. Coragem de encontrar o bem de frente. Coragem de esculpir a si mesmo. Sem esse passo, não conseguimos responder o mundo à altura. Sem esse passo, só aumentarão os buracos na sala.

andre@educ-acao.com

O barão da árvore de Higienópolis é um mágico

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* texto republicado no Planeta Sustentável.

Gabriel decidiu morar numa amoreira do bairro de Higienópolis, região de classe alta em São Paulo, ao lado de uma das saídas do Shopping Higienópolis. Gabriel, 15 anos, o menino-passarinho, não anda com documentos, sonha em aprender mágicas com baralho, não sabe ler, carrega a tiracolo um livro de mágicas. Gabriel parou na Rua Veiga Filho porque achou a rua bonita. Gabriel deve ter passado pela rua e olhado a árvore com atenção suficiente para imaginar sua cama em cima da árvore, para imaginar a si mesmo subindo na árvore e explorando-a como ninguém antes havia feito ou sequer sonhado.

Gabriel gosta da novela Carrossel. Gabriel não conhece Cosme Chuvasco de Rondó, o personagem de Ítalo Calvino do livro O barão das árvores, que resolveu morar nas árvores e se despediu da família dizendo “não vou descer nunca”. Gabriel, o barão da árvore de Higienópolis, recebe visitas da polícia, dos bombeiros e de moradores que o veem como um intruso mal-vindo. Gabriel, o barão da árvore de Higienópolis, recebe visitas de Luciana, uma mulher frondosa, que se torna sua primeira mãe das ruas, seu primeiro galho firme onde se pendurar caso se veja em perigo.

Gabriel sofreu uma agressão física por um dos moradores da região. Gabriel incomoda pela sua presença, ao ponto de o denunciarem por poluição visual. Gabriel ouve um morador do bairro: “Cortem a árvore e o menino não terá mais onde subir”. Gabriel ouve outro morador: “Esse garoto não pode viver na árvore, ele está cometendo um crime ambiental”. Gabriel pergunta: “O que é crime ambiental?”.

Gabriel quer aprender mágicas e, quando me contam a história de Gabriel, tento aprender uma mágica para compartilhar com ele. Gabriel recebe a visita de uma jornalista do Estadão, a Vivian, que ouve atentamente (e sensivelmente) sua história. Gabriel recebe a visita de Eduardo, Jorge, Gabi, Nicolau, Guiomar, Cauê, Pepê, Beliza, Rosália, Tamiê, Pedro, Flávio, mais e mais visitas de Luciana. Gabriel desce da árvore, transforma a calçada da Rua Veiga Filho na sua sala de estar. Gabriel atrai a atenção das pessoas por olhar no olho, transbordar pelos poros a sua paixão por mágica. Gabriel é um mago e não sabe, com sua alquimia natural une ao seu redor pessoas que dificilmente se encontrariam se não fosse a sua presença – ou Gabriel sabe que é um mágico? Gabriel é o mágico que desperta nas pessoas o sentimento de cuidado. Gabriel dorme rodeado de pessoas que fazem vigília para o proteger.

Gabriel me vê fazer a mágica que treinei exclusivamente para ele. Gabriel se impressiona. Gabriel se frustra um pouco depois que conto o segredo da mágica, quando revelo como faço uma moeda de cinco centavos desaparecer no meu cotovelo. Gabriel acha que não sou um mágico de verdade, diz para mim, risonho, irônico: “Quero ver você transformar essa moeda de cinco centavos em uma nota de dois reais”. Gabriel me mostra seu livro de mágicas. Gabriel pede para eu lhe ensinar uma mágica com cartas de baralho. Gabriel vai conversar com um garoto que trouxe um computador para ambos brincarem e, enquanto isso, me dedico a aprender uma mágica nova, junto com Pepê, filho de Luciana. Gabriel se impressiona quando vê a mágica que eu e Pepê aprendemos, ainda que ele dê a entender, sutilmente, com uma pontinha de desconfiança no olhar, que não nos aprova como mágicos – entusiasmados, eu e Pepê fundamos rapidamente nossa dupla de mágica que sabe uma mágica só: “Os Monomagic”.

Gabriel não sabe, mas já já vai encontrar sua mãe novamente. Gabriel chegou na Rua Veiga Filho oito dias atrás, contando que se escondeu entre a carga de um caminhão cegonha para chegar em São Paulo, deixando para trás o município de Cachoeiras do Macacu, perto de Nova Friburgo (RJ), deixando para trás sua família, deixando para trás sua televisão onde assistia à novela Carrossel. Gabriel já já vai encontrar sua mãe e, ao seu redor, as pessoas que chegam não saem mais. Gabriel não sabe, mas Rosália, uma das pessoas que o rodeiam agora, tem um sítio em Nova Friburgo. Gabriel não sabe, mas Rosália conseguiu entrar em contato com sua mãe. Gabriel quer dormir mais um pouco, mas há um caminhão ao seu lado que não para de fazer barulho. Gabriel se esconde debaixo da coberta, então Luciana se aproxima de um dos responsáveis pelo descarregamento do caminhão e oferece ajuda para retirar as caixas recheadas de produtos do McDonald’s. Gabriel continua debaixo das cobertas enquanto Luciana começa a carregar as caixas do McDonald’s para fora do veículo e chama mais gente para ajudá-la – e o homem no caminhão barulhento diz: “Esse menino vale ouro, é?”.

Gabriel vai ao shopping comprar um boneco do Toy Story com o dinheiro que ganhou nos últimos dias. Gabriel está na loja, encantado com a quantidade de bonecos do Woody, seu personagem favorito, e enquanto isso sua mãe chega na Rua Veiga Filho. Gabriel nem imagina que sua mãe está na sua sala de estar. Gabriel nem imagina que sua mãe já o procurou até no IML, sem mais acreditar que veria o filho vivo. Gabriel nem imagina que sua mãe escreveu, atrás de uma foto sua, as seguintes palavras: “Dia 9.07.2014. Gabriel com 15 anos parou no Rio de Janeiro através de carona. Mas Jesus guardou e cuidou dele. Essa foto foi revelada para divulgar o desaparecimento dele. Deus é fiel e nunca abandona os seus”. Gabriel contou que a mãe havia o abandonado, mas ela ressalta outra versão, desabafando que o filho faz tratamento psiquiátrico.

Gabriel sai do shopping com uma sacola da Rihappy na mão. Gabriel olha para sua sala de estar na rua e se depara com sua mãe. Gabriel e a mãe, Dulciléa, se abraçam, e a mãe chora, e choros brotam no asfalto como enxurrada. Gabriel abraça Dulciléa e diz: “Vamo embora, mãe?”. Gabriel volta para casa com a mãe, o padrasto, o Woody e seu livro de mágicas. Gabriel é um mágico porque conseguiu uma proeza magnífica. Gabriel tira fotos com todos, finda sua epopeia na Veiga Filho. Gabriel é um mágico porque conseguiu uma proeza magnífica: transformou o asfalto em lugar de encantamento.

Ah, Gabriel, boa sorte no seu caminho… Que nos esforcemos para que cada vez mais o labirinto que chamamos de cidade se torne um espaço pontilhado de encontros profundos. Gabriel é um alerta, aponta o melhor e o pior em nós.

* agradecimento especial à Natália Ferreira, que me apresentou à Luciana.

Como mudar a educação na raiz

Screen Shot 2014-07-27 at 14.24.31* texto inicialmente publicado no Portal Aprendiz // republicado em espanhol na Reevo.

As pessoas saíam das lojas para olhar o acontecimento.

– Piriri, piriri, obá! Oi quem vem lá, obá!

A cantoria se espalhava pelos ouvidos de concreto.

– Piriri, piriri, obá!

Nas janelas dos carros, curiosos esticavam seus pescoços. O policial observava a marcha com atenção. O atendente da loja de sapatos saiu para a porta com a testa franzida em sinal de interrogação. Uma mulher chamou a atenção da amiga para juntas varrerem a cena com suas pestanas.

– Por onde passa, obá! Estremece a terra, obá!

Ainda que discreta, a marcha chamou atenção. Sem megafones, sem faixas, sem cartazes. Não havia black blocks. Não se tratava de uma manifestação comum. Não eram os “fraldas pintadas”, não era a esquerda, não era a direita. Quem compunha a marcha? Vinte e uma crianças de 5 e 6 anos e três educadores. Como reivindicação, pediam a cidade inteira. Pediam parques, praças, ruas. Pediam que a cidade recebesse as crianças com cuidado e carinho. Pediam que as pessoas olhassem nos olhos umas das outras. Pediam que ninguém se esquecesse de brincar. Pediam respiros. Pediam o retorno da poesia à presidência das imaginações. Pediam cor. Pediam que os adultos voltassem a ver o mundo ao redor.

Sim, pediam que os adultos voltassem a ver o mundo ao redor.

As crianças não gritavam frases políticas nem carregavam cartazes para requerer tais demandas. Seu ato berrava mais do que qualquer palavra ou faixa, demandava o sonho enquanto o realizava. Tratava-se de um ato de ocupação criativa da cidade, de brincação caminhativa. A marcha saiu da escola municipal de ensino infantil Gabriel Prestes com um destino final: uma biblioteca. No trajeto, andamos apenas algumas quadras, ritmados pela cantoria do “piriri, obá!”. Nesses poucos metros, sentimos a realidade se deslocar.

As pessoas ao redor haviam, de repente, quebrado suas resistências secas. Sorriam de boca aberta, escancarada de espanto positivo. As crianças riam em enxurradas, animadas, hiperpresentes. Como é raro encontramos grupos de crianças em ruas movimentadas, a marcha impressionou as pessoas. E as crianças saem pouco para as ruas por que é perigoso? Viver é perigoso, claro. Hoje em dia, as pessoas acreditam que tudo é perigoso e seguem, pouco a pouco, fugindo de tudo que as coloque em atrito com nossa cultura, que as joguem na aspereza da pele dos dias ou nas brechas lúdicas da cidade, e assim perdem o que há de mais pulsante e educativo na realidade. Quanto mais fogem do perigo, mais o alimentam. Quanto mais se iludem ao achar que escaparam, mais se sufocam. As crianças que marchavam pelas ruas do centro de São Paulo, acompanhadas por educadores, provavam que a resolução mais madura é destruir o perigo na raiz, ocupando sua casa – e ocupando-a criativamente.

No fim do dia, uma das professoras que estava na caminhança pelas ruas falou: “A cidade ouviu as vozes da infância e seus percursos!”. Outra educadora comentou: “Senti a mesma emoção quando levamos as crianças da minha escola, à pé, até o prédio do Banespa. As pessoas sorriam e viam as crianças na rua, me senti humanizando a cidade”. E eu pensava, no meu silêncio fervilhante: há algo muito errado na desconexão crônica do adulto com qualquer coisa que o cerca, um desconcerto que as crianças desmancham com um simples malabarismo de olhar. Numa conversa sobre essa experiência, cheguei a lançar uma provocação brincante: “Se fôssemos realmente radicais, colocaríamos as crianças para educar os adultos. O que temos a aprender com elas não é mais importante do que o que elas têm a aprender com a gente?”.

como mudar a educacao na raiz

Resistir e criar

Em uma cidade de cidadãos não praticantes e com altruísmo sedentário, como provocamos uma mudança na relação entre as pessoas? E as ruas, como torná-las apoteoses da mudança, lugares onde se deem mais e mais encontros potentes? “As ruas já não conduzem apenas, elas mesmas são lugares”, dizia o escritor John Brinckerhoff Jackson, um teórico que lidava com a temática das paisagens. Estimular que as crianças e jovens ocupem o território ao seu redor de maneira criativa, gerando contatos genuínos, é um ato educativo, político, de saúde e cuidado. É dizer para as novas gerações que suas presenças mudam o entorno. É apontar uma nova cultura, que demanda uma nova construção de aprendizagem, na qual a cidade como um todo é reconhecida como um organismo vivo de educação – várias expressões e projetos têm vindo à tona para tocar esse ponto crucial da mudança da nossa cultura pela percepção que a educação demanda um cuidado coletivo, como bairro-escola, cidade educadora, comunidade de aprendizagem e território educativo.

Já pensou se a aprendizagem informal que mora nas brechas das cidades for mais e mais descoberta? Quantas pessoas não aceitariam compartilhar suas histórias, ensinar o que sabem? Já imaginou se você passasse a se reconhecer como um educador das ruas? Podemos criar um novo imaginário sobre o que é educação, percebendo que a educação que transborda pela cidade é um símbolo diferente dos outros que se perpetuaram até agora. É uma raiz que vai mais fundo e encontra outras raízes – nessa linha profunda, educação é cuidado consigo mesmo, com o outro e o ambiente.

Sempre que analiso a urgência por mudanças na educação me lembro do olhar de Gandhi sobre as causas do seu tempo. Depois de se mudar para a África do Sul para trabalhar, ainda jovem, Gandhi sofreu bastante preconceito por ser indiano. Ao entrar nos trens sul-africanos, na primeira classe, exigiam que fosse transferido para a terceira classe, mas nunca consentia com esse tipo de situação. Ele sentia fortemente que não dava mais para aceitar que uma pessoa fosse menosprezada por sua cor ou nacionalidade. E esse sentimento de “não dá mais”, essa necessidade de não cooperar com uma situação ou mesmo resistir a ela, se repete quando Gandhi percebe que os indianos importavam sal da Inglaterra, sendo que era possível pegar sal diretamente na Índia. Sentindo que não dá mais para colaborar com esse tipo de situação, Gandhi estimula a não cooperação, a desobediência criativa, e leva à frente a Marcha do Sal, na qual milhares de pessoas seguiram até o litoral do Oceano Índico para buscar o sal direto na fonte. Essa urgência no olhar retorna quando Gandhi se depara com indianos pagando impostos absurdos. Não dá mais. Não dá mais.

E nessa linha de pensamento, o que “não dá mais” em relação à nossa educação deseducadora?

Não dá mais para acharmos normal um aluno passar doze anos na escola e mesmo assim não aprender nem a ler. Não dá mais para perguntarmos a jovens de 17 anos se eles têm um sonho e ouvir que a aspiração é repetir as carreiras que outros tantos hoje seguem, rumo a oceanos de infelicidade, sem que tenham refletido minimamente sobre quem são e como podem lapidar sua singularidade. Não dá mais para chegar em escolas, ficar impressionado com o número de professores de licença, muitos em depressão, e achar que um sistema que deixa a mente e o corpo das pessoas domado, mutilado e dolorido deve ser reaberto do mesmo jeitinho todos os dias. Não dá mais para acharmos que a violência é um caminho a ser seguido – e o que fazemos com as crianças, jovens e professores hoje é violência. Violentamos sonhos que nem chegam a ser sonhados. E cada vez mais acredito que só quando nos apropriarmos do ambiente ao nosso redor com ênfase, criatividade e generosidade é que deixaremos espaço para emergir uma abordagem de aprendizagem forte o suficiente para mudar a educação em larga escala.

como mudar a educacao na raiz

Recentemente uma amiga compartilhou no Facebook uma imagem com uma piada que ironiza nossas relações rachadas, dizia assim: “Fiquei sem internet por um dia e descobri que tem um pessoal aqui em casa, até sentei com eles na mesa, acho que é minha família”. E bem assim acontece com nosso entorno, imaginem a situação: “Um dia tropecei numa pedra na rua e descobri que tem um pessoal caminhando ao meu lado, até parei um deles para perguntar quem era, acho que também é um ser humano como eu”. Se não cultivarmos laços fortes com a cidade e as pessoas ao redor, aprendendo com elas, aceleraremos o processo de desumanização em curso. Viraremos máquinas, pedras, rinocerontes com sonhos natimortos. Na peça “O rinoceronte”, do franco-romeno Eugène Ionesco, há uma epidemia de “rinocerite” em uma cidade, que transforma quase todo mundo nesses grandes mamíferos de pele espessa, sem porosidade. Apenas um homem resiste – e, ainda bem, ele resiste até o final.

Resistir e criar: dois movimentos urgentes.

Resistir e criar.

Piriri, piriri, obá!

* depois me conte como foi seu encontro: andre@educ-acao.com

André Gravatá é jornalista, mas pode ser definido como um “esticador de horizontes”, sempre atento às transformações ao seu redor. Com o coletivo Educ.Ação, escreveu “Volta ao Mundo em 13 Escolas”, que pode ser baixado e lido gratuitamente. Em maio de 2014, como integrante doMovimento Entusiasmo, organizou com artistas, escolas, educadores, ativistas e estudantes a Virada Educação, um evento de ocupação criativa do centro da cidade de São Paulo. Pode ser encontrado através do andre@educ-acao.com.